Por Roberto
de Oliveira Loureiro
Continuamente
temos presenciado a uma verdadeira avalanche de mudanças que diretamente têm impactado o curso normal não só das economias mundiais, além é claro das próprias empresas. A relação capital X trabalho também tem se alterado de forma muito significativa.
Na
verdade, mudanças sempre existiram. Porém, hoje as mudanças são constantes e a
velocidade em que elas ocorrem é cada vez mais rápida. Como bem observa Peter
Drucker, a atual regra dos negócios é estarmos preparados para competir com
competência,
mesmo porque o passado não mais vai se repetir. O sucesso de ontem
já não garante mais o sucesso de hoje e conseqüentemente não sustentará o
sucesso de amanhã.
Edward
Lawler que é fundador e diretor do Centro para Organizações Eficientes, um
centro de investigação da Escola de Administração de Empresas da Universidade
da Califórnia do Sul, foi o palestrante responsável em abordar o tema Recursos
Humanos durante a Expo Management 1998, evento realizado em Buenos Aires nos
dias 9, 10, 11 de setembro. E. Lawler, com muita propriedade apontou as
principais forças que vêm regulando o cenário atual seja ele econômico ou
empresarial.
O
sistema econômico mundial está hoje fortemente inserido no domínio do sistema
privado sobre a propriedade governamental, do mercado livre sobre um controle
central, o capitalismo se sobrepondo ao socialismo, a democracia ao comunismo,
e, por último, os mercados abertos praticamente eliminando os mercados
fechados.
Vale
lembrar que numa economia cada vez mais globalizada a arena é o mundo, o que
nos faz concluir que hoje os desafios são bem maiores. Os muros caíram. O
paternalismo está dando lugar à competência e ao profissionalismo.
Por
outro lado, grandes mudanças também têm ocorrido no cenário empresarial.
As
empresas necessitam rapidamente ajustar-se a estes novos tempos sob o risco de
não mais se manterem competitivas e não serem eliminadas pela concorrência.
Em
meio a toda esta turbulência o ser humano, principal fator capaz de tornar a
empresa permanentemente competitiva passa a ser o centro das atenções, pois
somente seres humanos competentes e devidamente qualificados poderão produzir
ou prestar serviços com qualidade.
Vivemos
ainda o processo de transição de modelos administrativos em muitas empresas. O
dinossauro corporativo, burocrático pesado, extremamente hierarquizado, com
baixo valor agregado está dando lugar a um novo modelo de administração; mais
ágil, rápido, com poucos níveis hierárquicos, focado no cliente com a revisão
permanente dos processos e com melhorias contínuas.
Bem
ou mal é verdade que muitas empresas já fizeram ou passaram por seus processos
de dowsizing, reengenharia, qualidade total etc. É verdade também que a
tecnologia hoje está muito mais disseminada por todos os cantos do planeta a
custos cada vez mais baixos.
É
verdade também que hoje não seria exagero algum afirmar que o mundo está menor por
decorrência de uma intensa rede de telecomunicação.
A
própria Internet com cerca de 200 milhões de usuários pelo mundo afora também
está dando a sua contribuição neste processo. Os consumidores estão cada vez
mais exigentes. O comércio eletrônico tende a transformar as regras do comércio
convencional.
Estamos
passando de uma força de trabalho braçal para uma força de trabalho
intelectual. A gestão do conhecimento na empresa é algo que deva ser tratado
com bastante atenção, pois ela será um fator estratégico não só contribuindo
para a sobrevivência das organizações mas, também pelo seu crescimento
sustentável.
Todos
esses fatores devidamente combinados estão acontecendo tão rapidamente que as
pessoas do topo já quase não conseguem mais acompanhar, definir e saber
exatamente o que ocorre na linha de frente, daí oempowerment seja pela
própria redução/eliminação dos níveis hierárquicos seja pela necessidade de
buscar uma agilidade que até então não era exigida no passado.
Algumas
conclusões são oportunas à luz deste novo cenário. A capacitação das pessoas
será um dos fatores críticos de sucesso para a sobrevivência das empresas
nestes novos tempos. A prontidão para agir é outro ponto importante, ou seja,
necessitamos de pessoas pró-ativas que possam ousar, correndo riscos calculados
é verdade, mas que tentem buscar novas soluções para antigos problemas e que se
sintam motivadas a fazerem isto.
O
conhecimento está em alta nesta era do capital humano, porém conhecimento só
não basta. É preciso que este conhecimento possa ser colocado em prática, pois
são as ações provenientes do conhecimento que gerarão as soluções de que
necessitamos. Resultados são conseqüências do nosso poder de criar soluções
para os problemas ou desafios que nos são apresentados.
Evidentemente
que deve haver também por parte das empresas não só um “habitat” propício,
favorável e encorajador a estas práticas como uma política de incentivos que
possa recompensar todo este movimento mesmo porque mão-de-obra barata já deixou
de ser vantagem competitiva há algum tempo.
O
que está ocorrendo no mundo dos negócios é a forte convicção que a qualilidade
de vida terá importância cada vez maior para as empresas interessadas em
atrair e manter talentos.
Em
se tratando da área de Recursos Humanos (RH), a organização do futuro deve
alinhar suas estratégias de R.H. a quatro pontos chave para o aumento das
qualificações dos seus colaboradores.
O
primeiro ponto está associado ao conhecimento do trabalho, do negócio
e de todo o sistema que envolve as operações. Um segundo ponto é a informação sobre
os processos, qualidade, retroalimentação do cliente, eventos e resultados
comerciais.
O
terceiro ponto está relacionado ao poder para agir e tomar decisões
sobre o trabalho em todos os seus aspectos e, por último, o quarto ponto diz
respeito ao sistema de recompensas praticado pela empresa que deve
estar ligado aos resultados comerciais e ao crescimento em capacidade de
contribuições, ou seja, no próprio desempenho das pessoas.
"Algumas
empresas perguntam a seus clientes o que eles desejam. As líderes de mercado
procuram saber o que seus clientes desejam antes mesmo deles". Esta máxima
colocada por Gary Hammel C. K. Prahalad enfoca bem o senso de pró-atividade que
hoje as empresas necessitam.
Para
competir neste cenário às empresas de alto desempenho procuram manter pessoas
com alta taxa de empregabilidade.
Empregabilidade sendo
entendida como a capacidade de desenvolver novas competências para estar em
condições de atender as contínuas exigências e desafios impostos no mercado de
trabalho.
No
passado, um justo dia de trabalho era recompensado por um justo pagamento
diário. A relação era a seguinte: se você fosse leal, trabalhasse duro e
obedecesse às ordens, a empresa, em troca, lhe ofereceria um trabalho seguro e
aumento de salário que de certa forma gerava uma certa segurança financeira.
Hoje o novo contrato de trabalho está inserido dentro de uma nova formatação. O
que se busca é uma associação mutuamente proveitosa entre empresa e colaboradores.
A nova regra é a seguinte: se você desenvolve continuamente suas habilidades,
aplica-as de modo que possa ajudar a companhia a ter sucesso, se você
efetivamente agrega valor ao negócio, a empresa apoiará o seu desenvolvimento,
propiciará um local de trabalho desafiante e lhe recompensará pela suas
contribuições. Esta é a nova regra do jogo.
Na
verdade a palavra emprego está em extinção, bem como quase tudo o que dela
decorre. Hoje o que devemos buscar é um trabalho. Antigamente o importante era
você ter um emprego para toda vida. Hoje o que importa é você ser
empregável pela vida toda. Daí a importância de investirmos constantemente
na nossa carreira, com ou sem subsídios por parte da empresa, não importa. O
que importa mesmo é que hoje o novo conceito de carreira diz que é mais
importante você ser empregável do que ter um emprego e portanto, parar de
estudar e de se atualizar é parar no tempo.
O
sucesso da empresa está diretamente ligado a seu pessoal, seu principal ativo,
responsável pelo aumento da qualidade de seus produtos e serviços, responsável
no mercado pela sua competitividade.
As
organizações de alta performance, além de manterem pessoas com alta taxa de
empregabilidade, também visam construir e manter equipes sinérgicas e
competentes.
Dentre
as características que definem uma equipe de alta performance podemos citar:
liderança, alinhamento de propósitos, comunicação afetiva, uma visão comum do
futuro, foco no cliente, talentos criativos, rapidez de respostas,
responsabilidades compartilhadas, senso de justiça, ética, etc.
Vale
lembrar ainda que cada gerente da empresa também é um gerente de Recursos
Humanos na medida em que ele direta e continuamente interage com sua equipe de
trabalho. Sendo assim, cada gerente também é responsável pela administração do
capital humano. Cada gerente da empresa, independente de sua área de atuação,
deve liderar sua equipe, recrutar e treinar o seu pessoal, deve comunicar e
orientar o curso das ações, deve avaliar o desempenho de cada funcionário,
propor mobilizações etc.
Vivemos
numa sociedade espantosamente dinâmica, instável, desafiadora e ao mesmo tempo
evolutiva. Este é o nosso tempo.
Correrá
sérios riscos quem decidir ficar esperando para ver o que acontece. Cada tempo
de espera é um tempo perdido.
A
adaptação a essa realidade, será cada vez mais uma questão de sobrevivência.
Hoje os sistemas de informação disponíveis nos oferecem uma infinidade de
informações, cabe a nós, saber filtrá-las extraindo o que há de melhor e o que
nos interessa para as nossas tomadas de decisão. Temos que saber
diferenciar o que é informação e o que é poluição.
Competir
na era do capital humano exige muito trabalho, esforço e
determinação. O ser humano com toda a sua potencialidade, é a figura principal
na formatação destes novos tempos e efetivamente pode fazer a diferença no
sentido de construir não só empresas mais ágeis e lucrativas, mas também e
principalmente um mundo justo e humano pois só assim terá valido à pena ter
vivido estes novos tempos em que o capital humano é personagem principal
desta nossa história.
Sobre
o Autor:
Roberto de Oliveira Loureiro. Professor de Graduação e Pós-Graduação da Fundação
Armando Álvares Penteado – FAAP, Universidade Presbiteriana Mackenzie,
Faculdades Associadas de São Paulo – FASP e Universidade São Judas Tadeu. robertloureiro@uol.com.br
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