Vivemos
três momentos rotulados de novos: novo ano, novo século, novo milênio.
Por se
tratar de convenções sociais, não existe nenhuma fundamentação lógica e
racional para aflorar expectativas positivas quanto ao amanhã. Mas como na vida nem tudo que é lógico é
necessariamente psicológico, compreendo
como normal a existência de sentimentos favoráveis nas situações convencionadas
como novas.
Não
apenas por esses novos tempos, a realidade tem nos comprovado que quando
exercitamos expectativas e pensamentos favoráveis sobre o futuro, as ações se
tornam mais efetivas, motivadoras e saborosas. Como conseqüência, realimentamos
a convicção de que é perfeitamente possível acreditar em melhores dias para o
mundo e principalmente para a sociedade brasileira. Temos tido provas de que os
"deuses dificilmente nos contrariam", eles sempre dizem
"sim", para tudo aquilo que acreditamos que seja viável, possível e
mais correto. Temos que buscar o ideal, não o perfeito.
Costumo
afirmar que todos nós precisamos ter utopias, apesar das mazelas, violências,
inseguranças e desamores do dia-a-dia. Normalmente identificamos na palavra
utopia algo impossível, irrealista. Se buscarmos a origem etimológica da
palavra utopia poderemos mudar a nossa concepção sobre o seu real significado.
Utopia é uma palavra de origem grega.
·
"u" – prefixo que representa o que falta;
·
"Topia" – lugar.
Utopia:
"o que está faltando no lugar de alguma coisa".
Utopia
pode significar tanto lugar bom como lugar nenhum. Para nós do Instituto, quer
dizer lugar bom, ideal.
Acredito
que temos de criar e identificar o que está faltando em lugar das muitas coisas
que não estão corretas. Agindo, não apenas discursando.
Por
isso tudo considero que a opção de ser pessimista é uma decisão bastante
confortável e fácil. Os pessimistas normalmente se autodenominam de realistas.
São pessoas que não têm nenhuma dúvida de que tudo vai dar errado. São os
verdadeiros profetas das causas erradas. Se alguma coisa der certa, foi o
acaso; se der como eles esperam – errado-- é porque estão sempre certos a
respeito de tudo. Não se esforçam na busca de novos desafios e no desejo de
procurar mudar as situações e as coisas indevidas. Convivem mais
confortavelmente com o equívoco e a insatisfação. Consideram-se vítimas do
mundo. Não gostam de seus chefes. Julgam todos os colegas de trabalho
fofoqueiros e incompetentes, exceto ele, é lógico. Geralmente são mal casados,
mas nunca se desquitam. Não gostam do seu trabalho e ainda acham que sempre
estão ganhando menos do que deviam, mas não movem uma palha para sair do status-quo. São os donos da
verdade e cometem sempre os mesmos erros. Não renovam o estoque de erros. Não
têm dúvidas a respeito de nada, já que sabem mais do que todos.
A
propósito, temos constatado que os pessimistas são também prescritivos a
respeito das pessoas e da vida. São inúmeros os exemplos de posturas
prescritivas que tenho encontrado no meu dia-a-dia. Relaciono algumas delas,
que muito provavelmente o leitor já deve ter ouvido de "outras"
pessoas:
·
todos os políticos são safados ou ladrões;
·
todo carioca é malandro;
·
toda empregada doméstica é interesseira,
preguiçosa e desleixada ;
·
todo baiano é indolente;
·
todo curitibano é antipático e fechado;
·
todo motorista de táxi é mal-educado;
·
toda mulher dirige mal;
·
todo gordo é bonachão;
·
toda mulher acorda de mau humor
·
não acredito em ninguém, por isso anulei meu
voto nas três últimas eleições
·
na época da ditadura era melhor, não tinha tanta
violência como temos hoje.
·
todo brasileiro quer tirar vantagem de tudo.
·
bandido tem que ser morto, não tem jeito mesmo.
Etc, etc......
Confesso
que chego a ter um profundo sentimento de piedade pelas pessoas que adotam
comportamentos prescritivos e dogmáticos na vida. O mundo não é prescritivo. As
pessoas não são iguais. Jamais vou afirmar que todas as pessoas são boas. Seria
tão prescritivo quanto o pessimista. No entanto acredito que nem todo político
é ladrão e nem todo motorista de táxi é mal-educado. Nem todas as coisas no
mundo são ruins, como também não são boas. Nem todas as coisas boas andam
juntas. Da mesma forma que todos nós temos pontos favoráveis e pontos e
melhorar.
Por
favor, não façam destes comentários receitas de auto-ajuda, nas quais
positivamente não tenho a menor crença. A auto-ajuda diz para pessoas
"como" agir, sem levar necessariamente em conta as mudanças nos
valores. Aqui, estou me referindo a questões relacionadas a valores, crenças e
convicções, além de posições perante a vida ao trabalho a política e a
sociedade.
Acredito
na responsabilidade que cada um deve ter no sentido de contribuir para que o
dogmático, o preconceituoso, o pernicioso, o arrogante, o mentiroso, o
agressivo, o egoísta, o individualista, o de pensamento único, o autoritário, o
corrupto, o prescritivo e o violento sejam cada vez banidos das nossas relações
sociais, pessoais e profissionais.
Para
conquistarmos dias melhores é essencial que existam, pelo menos, três
condicionantes:
1.
Deixar de adotar comportamentos prescritivos, mesmo
porque as verdades são cada vez mais transitórias.
2.
Admitir, conviver e estimular a existência de
posições contraditórias e apostas.
3.
Raciocinar em rede
Para
concluir essa "prosa", irei descrever fatos recentes, que me
ensinaram a melhor conviver com a diversidade de comportamentos e posturas, sem perder
a crença de que podemos contribuir para mudar as coisas que nos irritam e
aborrecem.
Passei
as festas de final de ano na região dos Lagos, no Estado do Rio de Janeiro, mais
precisamente em Búzios. As suas inúmeras praias maravilhosas, com paisagens
naturais e humanas me deixaram profundas lembranças e saudades, pois me
ofereceram aos olhos, a cabeça e ao coração momentos de grande descontração,
reflexão e relaxamento. Não há a menor dúvida que o Estado do Rio de Janeiro é
privilegiado neste sentido.
Diante
de tanta beleza, também presenciei momentos da mais completa e absoluta
inexistência das mínimas regras de convívio social. Motoristas trafegando
literalmente na contramão, fazendo ultrapassagens imprudentes e indevidas,
colocando literalmente a vida de outras pessoas em risco. Não se tratavam
apenas de pessoas jovens, na busca irresponsável de uma aventura ou de
auto-afirmação. Em inúmeros momentos, me defrontei com pessoas, tanto mulheres
como homens, seguramente com mais de 40 anos, algumas de cabelos brancos,
dirigindo carros importados, com esposa/marido, filhos e provavelmente netos,
adotando comportamentos que
feriram e invadiram a minha dignidade.
No dia
1º de janeiro, às 17 horas, retornei ao Rio. A faixa de acostamento virou a
terceira pista, sem a menor cerimônia. Quando deixava de ter acostamento, ou
surgia placa avisando a existência de um posto policial a 500 metros , os que
trafegavam no acostamento exigiam o retorno para a pista da esquerda,
provocando engarrafamento. Nas ocasiões em que reclamei de tal procedimento,
ouvi a seguinte afirmação: "Deixa de ser babaca". Optei por continuar
sendo babaca durante toda a viagem.
Foram 180 quilômetros ,
percorridos em 5 horas e quarenta e oito minutos, o que representou uma média
de 30 km
por hora.
Pelo
que constatei, as grandes partes do engarrafamento foram causadas pelos
"espertos" e "não babacas" que trafegavam pelo acostamento.
Era a
maioria? Não!!!
A
maioria esmagadora dirigia seu automóvel nas faixas corretas.
Será
que por passar por esta experiência desagradável poderia afirmar que todo
carioca é um péssimo exemplo de educação no trânsito? Seguramente não. Pelo
fato de existirem muitas pessoas cometendo erros, não significa que todos estão
cometendo os mesmos erros. É óbvio, mas esquecemos muitas vezes de enxergar as
coisas mais simples.
Fiquei
imaginando essas pessoas em suas empresas, falando com seus
"colaboradores" a respeito de satisfação do cliente, ética, qualidade,
respeito, consideração, verdade, atenção e dignidade.
Estou
cada vez mais convencido que são nos pequenos detalhes do cotidiano da vida que
temos condições de praticar comportamentos
de qualidade e respeito mútuo. Quero estar me vacinado diariamente contra a
doença da auto-ilusão ou do auto-engano.
As
principais convicções que apóiam as observações dessa conversa são as
seguintes:
1 - "A teoria é diferente da
prática".
Discordo.
Toda nossa ação é baseada numa teoria. Se não praticamos determinados comportamentos teóricos é porque temos
e praticamos outras teorias.
2 – Não somos absolutamente
NADA pelo que sabemos.
O
conhecimento, por si só, não conduz a comportamentos
ou ações concretas. Nós somos e valemos pelos que fazemos e não pelo que
sabemos. Pensar certo é a coisa mais fácil do mundo.
3 – Ninguém pode dar o que não
tem.
Se não
tivermos qualidade pessoal, jamais poderemos dar qualidade para as outras
pessoas nas inúmeras e diferentes situações de nossas vidas.
Por
fim, quero convidá-lo a fazer um exame de consciência, com duas perguntas
simples e diretas:
1º -
Realmente você acredita que seja possível melhorar a nossa vida pessoal,
profissional e comunitária?
2º -
Você trafega pela pista do acostamento nas estradas da sua vida?
Responda
rápido, pois "a verdade não precisa de memória.”.
Felicidades
para todos nós nestes três momentos NOVOS: Ano, século e milênio.
Sobre o autor :
João Alfredo
Biscaia
Consultor do
Instituto MVC
Programas de
Mudança do INSTITUTO MVC.
www.institutomvc.com.br
www.institutomvc.com.br
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