O Brasil está numa fase
muito favorável. Fatores como a descoberta de recursos naturais inexplorados,
uma democracia robusta, uma população jovem e empreendedora, um amplo mercado
interno e o reconhecimento internacional estão entre as diversas razões para
ser otimista. Porém, neste cenário, o desenvolvimento da educação continua como uma das
principais restrições ao crescimento. Embora o número de estudantes no Ensino
Superior tenha dobrado nos últimos 10 anos, atingindo 6,5 milhões no ano
passado, as empresas continuam sofrendo nos cenários locais e globais por causa
da falta de mão de obra qualificada. Para mudar este cenário, é fundamental
entender porque
os sistemas tradicionais de ensino têm dificuldades em superar
os desafios atuais do mercado e quais são as alternativas para propulsar a
educação no Brasil.
A primeira grande restrição
dos mecanismos tradicionais é a lentidão na qual se consegue desenvolver o
conhecimento dos alunos. O período de formação é simplesmente incompatível com
o ritmo dos negócios da maioria das empresas e com a velocidade na qual o mundo
muda hoje em dia. Embora a mão de obra qualificada faça falta, não se investe
para obter um resultado incerto num prazo inadequado. Três, quatro ou cinco
anos são prazos nos quais as empresas e os governos conseguem estabelecer os
seus planejamentos estratégicos, portanto, fica difícil para qualquer gestor
justificar decisões de investimento cujo impacto será perceptível fora deste
prazo.
O segundo motivo é a falta
de flexibilidade na oferta de formação. Embora a diversidade de oferta em
cursos superiores tenha crescido, muitas vezes, as empresas querem resolver
problemas específicos e pontuais. As instituições de ensino só conseguem responder
a essa demanda por meio de programas longos e genéricos em que embutem
atividades que não correspondem à demanda da empresa ou a necessidade do aluno.
A mudança é lenta e
complicada porque os modelos de ensino são baseados em volume de alunos e tempo
de permanência na instituição. Por consequência, a preocupação em resolver
problemas de capacitação específicos em pequena escala foge das prioridades.
Problemas que poderiam ser resolvidos em módulos de uma, quatro ou vinte horas não representam um bom negócio a menos que o número de interessados seja realmente grande. Ou seja, instituições especializadas em ensino presencial saem atrás neste mercado.
Problemas que poderiam ser resolvidos em módulos de uma, quatro ou vinte horas não representam um bom negócio a menos que o número de interessados seja realmente grande. Ou seja, instituições especializadas em ensino presencial saem atrás neste mercado.
Assim como a venda de
músicas por unidade nas lojas virtuais está acabando aos poucos com o mercado
de discos, o setor educacional deve se preparar para a venda de certificação
por competência, em vez de venda de grade curricular e diplomas. Nesse
contexto, os avanços nas tecnologias digitais prefiguram uma evolução tão
marcante do que está acontecendo na indústria da música, do cinema e do livro. As possibilidades oferecidas
pelas plataformas de aprendizagem on-line e o conteúdo digital estão mudando a
configuração deste mercado para todos os envolvidos: aprendizes, professores,
instituições formadoras e empresas que precisam de mão de obra qualificada.
Inexistente em 2001 na área
de Ensino Superior brasileiro, a Educação a Distância cobrirá, em 2012, mais de
15% das matrículas do país, atingindo mais de 1 milhão de alunos. O que é
interessante observar é que as instituições que lideram este movimento no
Brasil não são aquelas que predominavam na modalidade tradicional de ensino.
Quando se fala em inovação, mudar pode ser bem mais difícil do que sair do zero.
Com a mudança tecnológica que está por trás dessa modalidade, aparecem novas
oportunidades para atender a demanda reprimida no mercado corporativo, trazendo
possibilidade de intervir de maneira mais pontual na capacitação de
funcionários, numa filosofia por demanda.
Outro ponto a ser
considerado com esta mudança, é que enquanto o mercado educacional sempre foi
relativamente local, o mercado de ensino on-line tende a ser globalizado. As
melhores instituições de ensino do mundo já estão se consolidando para oferecer
os seus cursos não mais para milhares de pessoas selecionadas a escala
nacional, mas sim para milhões de candidatos interessados em nível global.
Neste panorama, tanto as
empresas quanto as instituições de ensino brasileiras têm uma oportunidade de
repensar a questão do desenvolvimento de competências profissionais sob o olhar da inovação.
Estabelecendo novas parcerias e métodos que levam em consideração o que a
tecnologia já permite oferecer: qualidade em quantidade.
Sobre o autor:
* Romain
Mallard é especialista em tecnologias educacionais e diretor de tecnologia,
marketing e inovação da Digital SK
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