Por
Ernesto Berg,
Pessoas
criativas têm várias características e qualidades específicas que as
diferenciam bastante de indivíduos menos criativos. Certamente, o tipo e o grau
de criatividade variam de um indivíduo para outro, e nem todas as pessoas
criativas possuem uniformemente, e no mesmo nível, todas as características
aqui enumeradas, mas todas têm facilidade de lidar com esses métodos e ideias
por ser parte integrante de suas habilidades cotidianas. Além do que,
conhecendo essas características e desenvolvendo-as conscientemente, todos nós
acabaremos incorporando automaticamente esses atributos e habilidades às nossas
competências profissionais e pessoais.
VEJA AS CARACTERÍSTICAS:
1.
Abertura para o inconsciente
Nosso cérebro
pulsa e emite vibrações contínua e regularmente. É composto por cerca de 100
bilhões de células nervosas, chamadas neurônios, que emitem pequenas correntes
eletromagnéticas, as ondas cerebrais, as quais se alteram de acordo com nosso
estado de consciência. O eletroencefalograma detecta perfeitamente essas ondas
que sãop medidas em ciclos por segundo (CPS), ou Hertz.
Existem quatro
categorias de ondas cerebrais: Beta, Alfa, Teta e Delta.
Quanto mais alta a ciclagem por segundo, mais despertos estamos; é o estado Beta(13 a 40 CPS). Ciclagens
mais baixas evidenciam estados menos ativos de consciência. O Alfa (8 a 12 CPS) é uma onda cerebral mais
lenta, estável e rítmica. É o nível do estado mental de serenidade, paz e
quietude. Ocorre durante o relaxamento induzido em estado de vigília – quando
fechamos os olhos – e, também, quando praticamos visualização criativa,
meditação e técnicas de auto-sugestão. A criatividade é fortemente despertada
no nível Alfa porque, no estado de quietude por ele provocado, pensamentos e
imagens antes impedidos de aflorarem por causa da agitação mental do estado
Beta, ficam liberados e emergem até o nível consciente. É aquela ideia ou
palpite que surge repentinamente e que dá certo; é o “eureca, achei!”; é o
insight.
2. Base
de conhecimentos
essenciais.
Quanto mais
ampla a faixa de conhecimentos em outras áreas, maior a capacidade criativa do
indivíduo. Pessoas que se interessam por outros assuntos (ou que praticam
outras atividades) além de suas atividades habituais levam grande vantagem
criativa sobre as que não procedem assim. Você não pode retirar da sua mente o
que não foi colocado antes lá dentro. A qualidade dos depósitos efetuados na
nossa mente é que irá determinar a qualidade das ideias e insights que
surgirão. Nenhum especialista ou profissional é capaz de fazer contribuições
expressivas sem que tenha conhecimento de inúmeros outros assuntos paralelos à
sua especialização. Sem estudo e aprendizagem contínuos em áreas diferentes, é
impossível produzir resultados criativos ou inovativos, pois a criatividade é
fortemente estimulada pelo conhecimento e vivência em outros campos de
atividade, além dos da sua especialidade.
3.
Capacidade de análise e síntese
A capacidade
de fazer análises - e também de sintetizar - é uma habilidade típica de pessoas
criativas. Embora a análise possa dar a impressão de ser algo não criativo, ela
é uma fase fundamental do processo de concepção, pois permite avaliar problemas
ou obstáculos e dividi-los em partes menores essenciais e enxergar a relação
entre a parte e o todo. Indivíduos criativos dedicam muito tempo a análise e
síntese de solução de problemas, porque dessas observações depende a qualidade
das decisões criativas que serão tomadas, enquanto que pessoas menos criativas
parecem querer “arrancar” a solução - sem perder tempo com análises -, antes
mesmo de compreenderem a estrutura do problema ou do desafio.
4.
Capacidade de perceber e solucionar problemas
Teorias,
hipóteses e fatos poucas vezes estimulam a criatividade. O grande combustível
da criatividade são as situações problemáticas, aquelas que requerem soluções
que aparentemente não têm saída, ou situações difíceis de resolver. É aqui que
se revela o diferencial da criatividade e que a torna tão especial através do
uso de métodos lineares (isto é, lógicos) e intuitivos. As técnicas ESCUTAR,
Quadro de Ideias, Brainstorming, Incubação, são algumas das metodologias
criativas extremamente práticas para solucionar problemas e muito fáceis de
usar.
Indivíduos
criativos possuem grande habilidade de perceber problemas e desafios que
escapam à maioria das pessoas. Eles têm uma sensibilidade de entender aspectos
menos óbvios ou os pontos mais promissores de uma situação, aquelas
oportunidades ocultas que poucos notam. Não por acaso Martinho Lutero disse: "Se você
está procurando uma grande oportunidade, descubra um grande problema”.
5.
Curiosidade
Curiosidade é
ter interesse pelas coisas. Pessoas curiosas não ficam quietas esperando que as
coisas aconteçam. Ser curioso permite que o indivíduo esteja aberto a novas
experiências, a conhecer novos lugares, pessoas, objetos, vivenciar novas
situações. É algo que vamos perdendo à medida que crescemos, pois já
catalogamos, mentalmente, tudo o que julgamos ser importante para nós; desse
modo, entramos num rotina diária apenas repetindo as experiências e deixamos de
lado o fascínio da curiosidade e a busca pelas coisas novas.
6.
Flexibilidade
Pessoas
criativas têm grande flexibilidade de raciocínio e conseguem enfocar
problemas por vários ângulos diferentes. Quando surgem novos fatos ou
circunstâncias, adaptam-se rapidamente à nova situação, não hesitando em
abandonar uma linha de raciocínio, substituindo-a por outra mais plausível.
Elas gostam de testar, examinar, avaliar, imaginar diversas alternativas e
configurações antes de se decidirem por aquela que consideram a melhor solução
para resolver o problema ou descobrir oportunidades. Uma das áreas em que o
indivíduo flexível mais se dedica é a de fazer perguntas. “E se fizéssemos
desse jeito, em vez daquele?”, “Se olhássemos a situação de outro ângulo, o que
aconteceria?”
7.
Fluência
A fluência é
uma das características fundamentais para a resolução criativa de problemas ou
descobrir novas alternativas. Pessoas criativas conseguem gerar muitas ideias
diferentes para as mais variadas situações, e não se deixam levar pelo
tradicionalismo ou por rotinas estabelecidas. Por exemplo: Quantos usos diferentes você daria
a um clipe, além de prender papel? Eis
algumas possibilidades: palitar dentes, limpar ouvidos, pendurar roupa, gancho,
anzol, molho de chaves, marcador de página de livro, desentupir tubo de cola, limpar
unhas etc. etc. Certa ocasião, em um curso de criatividade que ministrei, um
dos participantes relacionou mais de 50 usos para um clipe, em menos de cinco
minutos. Especialistas afirmam que existem mais de 500 utilidades para o clipe.
Quantas você consegue encontrar?
8.
Habilidade de raciocinar por metáforas
O que as
seguintes frases têm em comum? “Tempo é dinheiro”. “Barriga da perna”,
“Na flor da idade”, “Cheque sem fundo”, “Esfriar a cabeça”, “Dente de alho”.
Resposta: todas elas são metáforas. A metáfora é uma figura de linguagem que
interliga diferentes realidades através de suas semelhanças. Ela ajuda a
compreender uma ideia recorrendo a outra ideia. Ela é um dos instrumentos mais
úteis ao trabalho criativo, qualquer que seja o campo de atuação profissional.
Utilizamos a metáfora o tempo todo. Ela é importantíssima na comunicação do dia
a dia. É quase impossível nos comunicarmos sem recorrer à metáfora. Pesquisas
revelam que, durante as conversações, usamos de 3 a 4 metáforas por minuto,
através de simbologias, comparações e analogias. O GPS - ou um mapa - também é
uma metáfora, pois embora não seja uma cidade, ele representa graficamente a
estrutura viária da cidade, o que permite encontrar facilmente o endereço
desejado.
A parábola
também é uma metáfora, pois através dela são ensinados ou expostos conceitos,
às vezes complexos, que de outra forma seriam difíceis de entender. Por isso
mesmo Jesus Cristo utilizou inúmeras parábolas para ilustrar melhor suas
mensagens e facilitar a compreensão delas pelas pessoas.
9.
Motivação
Pessoas
altamente criativas criam, não porque alguém exigiu que criassem algo, mas
porque sentem necessidade de fazê-lo. O desejo e a motivação de criar são
elementos básicos para elas. Não importa as dificuldades e obstáculos, o
indivíduo criativo seguirá em frente sem desanimar, pois seus estímulos são
internos, não externos. Ele é movido por entusiasmos internos. Pessoas
criativas encontram no trabalho que elas escolheram o caminho mais importante
para alcançar sua realização pessoal. De tão motivadas e concentradas, elas,
não raro, perdem a noção de tempo e espaço ao se envolverem com suas
atividades.
10.
Originalidade
Ser original
significa livrar-se de estereótipos, ir além do comum e corriqueiro, e imaginar
soluções diferentes, mais avançadas e singulares para problemas existentes ou
oportunidades que surgem. Pessoas criativas conseguem desestruturar sistemas e
processos tradicionais e enxergar além das
limitações impostas por regras e regulamentos, criando novas combinações e
novas alternativas. Indivíduos que pensam de forma original quebram paradigmas.
Em outras palavras: elas pensam “fora da caixinha”. Elas fazem conexões e
associações mentais entre coisas muito diferentes entre si dando origem a
eventos, fenômenos e experiências totalmente novas ou inusitadas. Foi o que aconteceu,
por exemplo, com a cirurgiã-dentista Beatriz Zorowich, cuja empregada vivia
entupindo a pia da cozinha quando lavava arroz. Então, uma noite, assistindo
televisão, Beatriz teve um “estalo” e veio a ideia completa de como fazer
um lava-arroz. Auxiliada pelo marido, colocou papel-alumínio em duas
tigelas, grampeou uma na outra e fez furos com prego. Pronto! Estava inventado
o protótipo do escorregador de arroz, útil também para escorrer verduras,
feijão, morango etc. O invento foi aperfeiçoado, patenteado e passou a ser
produzido industrialmente pela Trol S/A, tornando-se um extraordinário sucesso
de vendas, rendendo polpudos dividendos à inventora. Algo simples e útil, no
qual ninguém ainda havia pensado antes.
11.
Percepção
Um dos
pontos-chave da criatividade é a percepção. É aquilo que muitas vezes está bem
à nossa frente, mas não enxergamos. Vemos, mas não percebemos, olhamos,
mas não distinguimos. A pessoa perceptiva enxerga além das coisas, além do
óbvio, além das aparências. Foi o que Ray Krock viu no sistema de fast food
criado pelos irmãos McDonalds. Os irmãos haviam criado o processo, mas não
haviam se dado conta do alcance do seu invento. Ray Krock percebeu suas
imensas possibilidades e adquiriu os direitos de terceirização da metodologia,
implantando-o em seus restaurantes e lanchonetes, tornando-se proprietário da
maior cadeia de lanchonetes do mundo.
12.
Perseverança e concentração.
Pode-se
afirmar categoricamente que perseverança e concentração são dois componentes
fundamentais e indispensáveis da criatividade e inovação. Muitos imaginam que
ser criativo é sentar na poltrona, relaxar, dar vazão às ideias e que, depois
disso, as coisas se concretizarão automaticamente como num passe de mágica.
Nada mais distante da realidade. Ter ideias é uma coisa, colocá-las em prática,
é outra, bem diferente. Por isso mesmo, criatividade não é para preguiçosos e
indolentes. Ela exige esforço e trabalho concentrado tanto na fase de
experimentação quanto na implantação.
Thomas Edison,
que patenteou 1.093 inventos, afirmava que a perseverança era uma de suas
maiores armas para descobrir novos dispositivos. A lâmpada elétrica, por ele
inventada em 1879, teve cerca de 1.300 experiências fracassadas, antes do
primeiro sucesso. Ele considerava os malogros apenas etapas indispensáveis para
o triunfo final. Logo, quando Edison afirmava que a genialidade é 1% inspiração
e 99% transpiração, ele queria dizer que a ideia representava somente 1% do
processo, os outros 99% eram de pura transpiração para concretizá-la, isto é,
tinha que “suar a camisa”. Pessoas criativas demonstram persistência
inabalável perante obstáculos e frustrações. O raciocínio ininterrupto e
trabalho continuado estão entre suas melhores características. Einstein
observou: “Eu penso sem parar durante meses e anos. Noventa e nove vezes a
conclusão é errada. Na centésima vez eu acerto.” Mentes produtivas são
disciplinadas e concentradas naquilo que fazem, a ponto de, às vezes, perder a
noção de tempo e desligar-se do que acontece à sua volta.
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Texto extraído e condensado do livro “Manual de Criatividade Aplicada”, de Ernesto Artur Berg, Juruá Editora. Maiores detalhes
sobre o livro acesse www.quebrandobarreiras.com.br seção de LIVROS,
ou acesse
aqui.
Veja outros artigos de desenvolvimento
profissional, liderança e motivação no site Quebrando Barreiras. ACESSE AQUI.
Ernesto Berg
Consultor de empresas, professor, palestrante, articulista, autor de 14 livros,
especialista em desenvolvimento organizacional, negociação, gestão do tempo,
criatividade na tomada de decisão, administração de conflitos. Graduado
em Administração e Sociologia, Pós-graduado em Administração pela FVG de
Brasília. Foi executivo do Serpro em Brasília por 10 anos e consultor Senior da
Alexander Proudfoot Company de São Paulo.
Editor do site www.quebrandobarreiras.com.br , voltado para a área de recursos humanos, administração e
negócios. Email: berg@quebrandobarreiras.com.br
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