A construção do conhecimento pode ocorrer em
qualquer contexto, seja na vida social, no trabalho, em casa, na escola, etc.,
entretanto, geralmente está associada a um curso ou à formação escolar
regular...
Como
ocorre ou é construído o conhecimento é algo que sempre me fascinou,
principalmente quando vemos jovens ou pessoas adultas com extremas dificuldades
em compreender coisas aparentemente simples e outros, que, com uma explicação
rápida, compreendem, assimilam e interiorizam o mesmo conhecimento, de forma
que deixam aparentar uma obviedade assustadora.
Qual
a diferença entre as pessoas que tiveram dificuldades e as que compreenderam
com facilidade? É essa a questão que suscita tantas respostas e indica uma
variedade de caminhos.
Se
eu fosse construtivista, isto é, tomasse como premissa os pressupostos de Jean
Piaget, poderíamos afirmar que
a interação com o contexto e as interações disso
decorrentes levaram a pessoa a criar uma estrutura interna, ou esquemas e uma
adaptação a esse meio, condicionando a compreensão e assimilação, deste ou
daquele conhecimento.
Podemos
afirmar que Jean Piaget, partiu da idéia que os atos biológicos são atos de
adaptação ao meio físico e organizações do meio ambiente, sempre procurando
manter um equilíbrio. Assim, Piaget entende que o desenvolvimento intelectual age do mesmo modo que o desenvolvimento biológico (WADSWORTH, 1996). Para
Piaget, a atividade intelectual não pode ser separada do funcionamento
"total" do organismo (1952, p.7).
Nesse
sentido ,WADSWORTH (1996) define os esquemas como estruturas mentais, ou
cognitivas, pelas quais os indivíduos intelectualmente se adaptam e organizam o
meio. Assim sendo, os esquemas são tratados, não como objetos reais, mas como
conjuntos de processos dentro do sistema nervoso. Os esquemas não são
observáveis, são inferidos e, portanto, são constructos hipotéticos.
Assim,
a assimilação seria o processo cognitivo pelo qual uma pessoa integra
(classifica) um novo dado perceptual, motor ou conceitual às estruturas
cognitivas prévias (WADSWORTH, 1996). Ou seja, quando a criança tem novas
experiências (vendo coisas novas, ou ouvindo coisas novas) ela tenta adaptar
esses novos estímulos às estruturas cognitivas que já possui.
A
construção do conhecimento pode ocorrer em qualquer contexto, seja na vida
social, no trabalho, em casa, na escola, etc., entretanto, geralmente está
associada a um curso ou à formação escolar regular, o que gera uma contradição,
no mínimo, pois quando ocorre o conhecimento, ele não é separável em teoria e
prática e possui uma grande correlação com interesses ou peculiaridades do
indivíduo, sejam aptidões inatas ou grande interesse, que ocasiona a motivação
e o resultado favorável.
Por
isso, surge o ludismo como uma forma não mágica, mas mais atraente,
estimuladora para a construção do conhecimento. Usando o brinquedo, a
brincadeira, é possível desenvolvermos em nossos educandos o prazer em
construir o próprio aprendizado. Acredita-se que essa construção faz com que
nos sintamos realmente sujeitos de nossa história; e não meros repetidores e
expectadores. As atividades lúdico-exploratórias vão contribuir no desenvolvimento pessoal, social, cognitivo, afetivo,
físico e psicomotor. A educação, cada vez mais formal, padroniza o comportamento das crianças para que se adaptem,
produzam bem e se integrem às expectativas familiares. Na correria de cada dia,
não estão programados o cultivo da vida interior da criança e o tempo para ela
se encontrar consigo mesma e descobrir o que gosta de fazer. Célia M. Melo
A
proposta é que, por meio de atividades lúdico-exploratórias, as crianças
liberem sua capacidade de criar e de reinventar o mundo, de expor sua
afetividade e de ter suas fantasias aceitas e exercitadas para que, através do
mundo mágico do faz-de-conta, possam explorar seus limites. A escola deve
proporcionar atividades lúdicas para que haja a interação entre a criança e o
objeto de estudo. Por meio dessa
relação, é possível ocorrer uma interação maior entre o sujeito cognoscitivo e
o objeto a ser conhecido. Para que elas possam compreender e reconstruir seu
conhecimento, é imprescindível ocuparmos esse espaço estimulando o interesse e
a participação delas. Célia M. Melo.
Entretanto,
conhecer não é necessariamente brincar como parece, o ludismo aparece como uma
alternativa viável na construção do conhecimento visto que essa construção é
vista como algo exaustivo e não prazeroso e não raro, como quase impossível. É
claro que é preciso considerar diferentes pressupostos para a essa construção,
pois entendemos que eliminarmos as outras alternativas, seria restritivo e não
indicado.
Por
outro lado, considerando o contexto de sala de aula, a interação ou relação
professor-aluno-objeto deve ser considerado como importante, pois a construção
é coletiva e socializada, não parece ser possível construir o conhecimento se o
sujeito está sozinho ou não obteve algum auxílio externo.
O
professor pode ser um condutor ou mediador na elaboração ou re-elaboração do
conhecimento, sendo que a medida que o aluno compreende o objeto com o auxílio
do professor, o professor compreende melhor o objeto e ambos alteram a natureza
do objeto tornando modificado ou pelo menos percebido de forma diferente,
assim, o educador aprende tanto quanto ou mais que o educando, numa evolução
bilateral e síncrona.
Para
Jussara Maria Lerch Hoffmann: "se o aluno é considerado um receptor
passivo dos conteúdos que o docente sistematiza, suas falhas, seus argumentos
incompletos e inconsistentes não são considerados senão algo indesejável e
digno de um dado de reprovação. Contrariamente, se introduzirmos a problemática
do erro numa perspectiva dialógica e construtivista, então o erro é fecundo e
positivo, um elemento fundamental à produção de conhecimento pelo ser humano. A
opção epistemológica está em corrigir ou refletir sobre a tarefa do aluno.
Corrigir para ver se aprendeu reflete o paradigma positivista de avaliação.
Refletir a respeito da produção de conhecimento do aluno para encaminhá-lo à
superação, ao enriquecimento do saber significa desenvolver uma ação avaliativa
mediadora.
Aprender,
é ficar sabendo, reter na memória, tomar conhecimento de, aprender por
experiência própria. Dicionário Michaelis. Ora,
se a aprendizagem consiste também em aprender por experiência própria, podemos
afirmar que é necessário um mediador em certos momentos, mas em outros a
assimilação é um processo interno, onde o saber toma características peculiares
ao sujeito, tornando-se como algo próprio e indissociável, o que chamamos de
interiorização ou compreensão, sem recorrer mais à memoria, que pode não trazer
a tona o referencial sobre certo objeto, seja por esquecimento ou alguma
sinapse inconsciente.
É
difícil verificar se houve ou não a aprendizagem dada a complexidade do
processo e diferentes concepções de avaliação, pois, a ação de ensinar contém
duas extensões. A primeira dimensão é a da ferramenta da intenção, a segunda é
a da aferição do resultado. Assim sendo, mesmo com a maior intenção de ensinar,
se a apropriação do conteúdo por parte do aluno não se efetivou, não teremos
cumprido a ação de ensinar, pois a concretização da meta pretendida não foi
alcançada, então não houve ensino, porque não se caracterizou a aprendizagem.
Moretto,Vasco Pedro.
Assim
temos o termo ensinagem , que conglomera então a ação de ensinar por parte do
professor e a ação de apreender por parte do aluno, como uma sociedade
cooperativa e intencional para atingir a finalidade da construção do saber
consciente, crítico e reflexivo, no enfrentamento não só da constituição da
aprendizagem, mas também da reconstrução desses mesmos saberes, dentro da
sociedade globalizada que muda a todo instante. Moretto,Vasco Pedro.
Poderíamos
então dizer que o sujeito que não compreendeu certo assunto ou objeto, não
possui internamente uma estrutura ou esquema interno que possibilite alguma
correlação com o contexto externo, não possibilitando a acomodação desse
possível saber e a conseqüente assimilação. Também poderíamos inferir que esse
indivíduo ou teve um mediador inadequado ou não teve nenhum mediador que o
conduzisse e o auxiliasse nessa compreensão.
Seria
adequado afirmar que o sujeito não possui os conhecimentos básicos e
imprescindíveis, pressupostos para a assimilação desejada e que seus interesses
e aptidões podem convergir para outros caminhos, senão diferentes do aquele
necessário para aquele saber, pois sabemos que a vontade e o interesse são
imprescindíveis para qualquer ação humana consciente.
Dewey
(1902, p. 14), discutindo a importância de se buscar descobrir as percepções e
interesses dos alunos, escreveu: “(...) selecionadas, utilizadas, enfatizadas
[atividades de interesses dos alunos], podem marcar um ponto de virada para
sempre na carreira inteira da criança; negligenciada, uma oportunidade se vai e
nunca será retraçada". Célia M. Melo.
Logo,
não temos pessoas incapazes de compreender, mas carentes de algum
direcionamento ou da percepção dos possíveis caminhos, que possibilitem a
compreensão própria, individual, de forma a tornar algo estranho, como seu, de
forma legítima e consistente.
João Mario dos Santos Nascimento, é Economista, Licenciado em Matemática, Professor de Economia, Executivo da Área Contábil e Acadêmico em Ciências Contábeis.
REFERÊNCIAS:
PIAGET, jean e INHELDER, Bärbel. A psicologia da criança. São Paulo : DIFEL, 1982.
PIAGET, Jean. Como se desarolla la mente del niño. In : PIAGET, Jean et allii. Los años postergados: la primera infancia. Paris : UNICEF, 1975.
PIAGET, Jean. Biologia e Conhecimento. 2ª Ed. Vozes : Petrópolis, 1996.
PIAGET, Jean. A equilibração das estruturas cognitivas. Rio de Janeiro : Zahar, 1975.
Série Idéias n. 22. São Paulo: FDE, 1994.
WADSWORTH, Barry. Inteligência e Afetividade da Criança. 4. Ed. São Paulo : Enio Matheus Guazzelli, 1996.